sábado, 21 de março de 2009

O dia mundial da poesia é hoje


Dia de primavera, ontem, o primeiro:
Sol brilhanado, céu azul, pouquinhas nuvens,
Passaros, florzinhas, pessoas felizes...
Dia e noite, o perfeito equilíbrio!
Estreladíssima a noite,
madrugada silenciosa, abre alas para a luz
que por entre galhos sombrios
vai iluminando flores e folhas que ainda virao a ser.
E hoje, a poesía tem seu dia
presentes o verbo, o substantivo e o sentimento
que precedem o amanha.





Das Schöne bewundern

Das Wahre behüten

Das Edle verhehren

Das Gute beschließen

Es führet den Menschen im leben zu Zielen

Im Handeln zum Rechten

Im Fühlen zum Frieden

Im Denken zum Lichte

Und lehret ihn vertrauen auf göttliches Walten

In allem was ist:

Im Weltenall, im Seelengrund.

Rudolf Steiner





quarta-feira, 18 de março de 2009

Impulsionando o querer


Como impulsionar meu querer para que este possa colocar em movimento a roda da minha história pessoal, tirando-me da posicao de mero espectador para atuar no centro de acontecimentos capazes de fomentar a evolucao do organismo social? Entre as pessoas com fogo até demais mas que geralmente acabam virando cinzas e outras completamente desinteressadas, como posso eu me transformar em agente de mudancas, sem me deixar simplesmente levar por idéias alheias ou tornar-me vítima de mobbing? Como ser sempre autêntica e fiel especialmente para comigo mesma?

Há alguns dias participei de um congresso que movimentou algumas dessas perguntas. Organizado pelo ramo antroposófico de Kassel, o eventou contou com a participacao da Dra Michaela Glöckler* como palestrante, tanto para introduzir como encerrar os trabalhos, que se deram através de workshops divididos em pequenos grupos para médicos, professores, pedagogos curativos, terapeutas sociais, economía social, ciências naturais, tecnología e ética, agricultura, cuidados com pacientes terminais, euritmía, pintura e modelagem.
Aqui, uma pequena síntese e outras tantas consideracoes tecidas sobre aquilo que ficou marcado, a partir do meu próprio ponto de vista :

Entre a natureza e a sociedade, me encontro eu. Da natureza recebi atributos volitivos como os instintos e a cobica. A alimentacao, o sono e a reproducao nao sao naturalmente pre-programados como nos animais e aí passam a valer os impulsos e as regras impostas pela sociedade. Sob a influência dessa polaridade vivo eu, procurando sempre encontrar a melhor forma de viver na tensao entre o meu querer e a coletividade. As vezes reajo, outras fico como que paralisada. Mas nenhuma das duas atitudes me satisfaz. Quero é me libertar da pressao exercida tanto pela natureza como pela sociedade. Mas... como chegar à "idéia luminosa" que vai despertar meu entusiasmo sem me resignar ou me queimar? Pensando! Só que nao do jeito que "morreu um burro", pois, pensar nao significa apenas reproduzir informacoes como faz o computador. Pensar é, em primeira instância, saber questionar e é sobretudo uma atividade espiritual impreescindivel ao autoconhecimento. Outro aspecto de apoio é procurar o vínculo a uma identidade pessoal, cultural, profissional ou religiosa que reflita e ofereca uma orientacao e uma imagem que conduz (Leitbild), condizente com o meu ideal interior. Na parte prática, permanecendo atenta e decidida a transformar em realidade aquilo que posso classificar de bom, meu trabalho, seja em qual área for, passa a ter forca e qualidade de vocacao, de servico religioso.

Tudo de bom na teoría. Mas como faco para aplicar concretamente essas idéias para que cheguem à instância da vida real? No exercício de contatos sociais, na elaboracao de projetos coletivos, seja formando pequenos grupos de estudo ou até no sentido de concretizar ideais mais ousados, estou treinando minha capacidade de comunicacao que nada mais é que o uso da palavra, do logos, o tal do impulso criador universal. Esse tipo de engajamento faz com que eu assuma com plena responsabilidade o papel que me cabe em cada situacao e como consequência posso chegar a ver o objetivo da minha decisao interior, concretizado em realidade exterior.

As chances para desenvolver relacoes construtivas nesse sentido, aumentam na medida que edifico meu interior com a mesma "substância" que aplico no plano social, ou seja, tambem fazendo uso da palavra, só que em forma de meditacao ou oracao. Meditando, desperto minha autoconsciência que me permite perceber que fazemos parte do mesmo princípio universal onde somos todos um e quando diferencas sao superadas me sinto mais livre para encarar minha missao. Preciso fazer crescer o autoconhecimento, iluminar meu pensar e aquecê-lo com as forcas do coracao. Com isso terei mais confianca em mim e em meus pensamentos. Vou deixar de vacilar e terei mais certezas, tornando meu agir seguro e muito mais efetivo.

Se me encontro inserida numa constelacao social/profissional preciso cultivar a cultura desse empreendimento para incentivar a capacidade de reunir pesssoas com um ideal comum. Assim como para o desenvolvimento pessoal, existem tambem meditacoes específicas para diversas áreas profissionais. A do "centro e perifería" foi proposta por R.Steiner aos pedagogos curativos e entre outras foi tambem sugerida no evento uma outra meditacao dada para a euritmia que acompanhada de movimentos na forma de um pentagrama é muito útil para exercitar a ampliacao do eu no âmbito espacial, pessoal e coletivo, melhorando minha postura e a emanacao do meu ser no ambiênte social.

Mas nao é só pensando, falando e meditando que vamos atingir nossos objetivos, mas entrando em acao e em contato. Engajamento politico é indispensavel para defender e dar voz àquilo que queremos ou nao. Vozes críticas que se levantam para nao deixar as decisoes nas maos de políticos ligados a interesses econômicos alheios aos valores humanos. Presencas ativas suficiêntes para defender a natureza e nossos ideais de liberdade, sem permitir que nos impinjam alimentos, medicamentos e bens de consumo que deterioram nossa saúde e a do nosso planeta. Guerreiros com domínio das armas certas contra as aberracoes que beneficiam apenas àqueles que detem o poder e, muitas vezes sem qualquer escrúpulos, manipulam a sociedade com o único intúito de incentivar e endeusar o consumo. Só que a minha voz se perde se nao estiver unida a outras que em número crescente vao fazer frente à conspiracao que o poder ecomômico, muito bem organizado, vem realizando para mutilar a vontade própria do ser humano e escravizá-lo, levando-o à depressoes e outros tantos tormentos psíquicos que o enfraquecem e o tornam vuneravel. Enfraquecido dessa forma sutil, ele acaba aceitando uma realidade nao escolhida por ele próprio, as vezes mesmo sabendo que nao é isso o que ele quer. Acomodando-se deixa-se levar pelas ilusoes e tentacoes que através do marketing nos iludem para que acreditemos nos valores que encherao os bolsos dos que detem o poder ecomômico, fazendo com que trabalhemos como escravos e ainda acreditando que o fazemos por livre e expontânea vontade. Que vontade é essa que nos motiva e hypnotiza a esse ponto ?

A escolha é nossa, acordar do sono que nos faz manipuláveis dá trabalho sim, mas é para uma boa causa, para que nossas futuras geracoes possam ainda ter possibilidades de saúde e de desenvolvimento; para que o planeta e seus sensíveis sistemas nao entrem em colapso por causa de tanto abuso inconsequente. Olhos abertos, mentes abertas e a busca de solucoes conjuntas pois especialmente os filmes norteamericanos nos fazem acreditar em heróis solitários que vencem sozinhos todas as forcas do mal. O que tem por de trás dessa imagem que tentam nos incutir?

A uniao faz a forca e Maquiavel já sabia bem como manter seu poder: jogando uns contra os outros! A guerra de todos contra todos é inoculada pelas forcas detentoras do poder. (Que poder é esse?) Reconhecê-las é um dos primeiros passos se desejamos, de fato, despertar para essa realidade pouco confortavel e de muitos desafios. A luta é necessária e quem nela entrar deve estar bem munido e unido a muitos outros para que a ideologia comum possa reverter em realidade à todos aqueles que decidiram acordar e dar um impulso no próprio querer para o bem do todo.

*Dra. Michaela Glöckler conduz a secao médica do Goetheanum em Dornach, Suica. Autora de grande número de livros e outras publicacoes, ela viaja pelo mundo dando palestras sobre temas relacionados a antroposofia.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Arte completando a criacao



Ai, que saudades de passear nos campos, florestas, rios, praia... A gente acaba se escondendo do frio, fechando as portas para os encantos do inverno.

O artista plástico Andy Goldsworthy nao fica desencorajado e sim inspirado com tudo o que a natureza tem de passageiro ou nao. Juntando pedras, folhas, gravetos, conchinhas ou gelo ele completa, exalta, extrapola, transcende as possibilidades da natureza e a transforma em arte. A fotografía completa sua criacao para que possamos participar da culminacao do seu processo criativo.
Usando apenas mareriais naturais encontrados no local da obra, esta adquire formas, cores, rítmos e nuancas que se harmonizam no contexto e com ajuda da acao do tempo, enfatiza o carater transitório em suas obras que sao, em sua maioría, de curta duracao.


Influenciado pelo misticismo característico da Escócia onde viveu muitos anos, ele procura perceber e entrar em contato com a dimensao espiritual oculta do local e esse aspecto tem importância fundamental em sua arte.

Existe um filme, documentando seu trabalho que se chama "Rivers and Tides". Quem tiver oportunidade de assistir, nao perca a chance.
Contudo, melhor ainda é entrar em sintonía com a natureza e criar tambem com pedrinhas, galhinhos, folhas, sementes, flores e tornar-se um jardineiro à completar a criacao.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Quem conhece Momo?


A menininha de cabelo estrupiado, cuja maior qualidade é saber ouvir e que tem uma difícil missao a cumprir com ajuda da tartaruga Cassiopéia: vencer os senhores cinzentos que consomem o tempo, munida apenas de uma flor que lhe foi dada pelo mestre Hora, o senhor do tempo.

Entao, quem conhece?

Tem me passado muitas vezes pela cabeca nos últimos tempos essa história do Michael Ende, o mesmo autor da "História sem Fim". Nao sei se é por causa da crise financeira mundial, já que a fantástica estória lembra muito dos homens cinzentos que demoliram o sitema ecomômico mundial com suas falcatruas ou se é porque Momo consegue ouvir a voz das estrelas que sao tambem minhas companheiras no silêncio das noites claras ou por que minha amiga usou recentemente uma das imagens da estória, ao comentarmos o filme "a estranha história de Benjamin Button".

Já está clareando o dia, vai chegando a hora de parar de escrever e ir para casa. Quem sabe mais tarde, depois de um dia bem dormido me vem a razao pela qual essa imagem me aparece com tanta frequência...

...e mais uma semana se passou. O tempo passa e nem por isso se perde, mas a gente muda as coordenadas astrais e nossos pensamentos recebem novos impulsos, mas Momo continuou a me acompanhar e suas imagens vao se aprofundando em meu ser.

Pilhas de livros interessantíssimos pra ler e eu que leio tao devagar! Mas tenho minhas noites e elas me dao o tempo que preciso para ler o que eu quiser. Ter um trabalho que nao tira o teu tempo e sim o coloca à tua disposicao e ainda te dá a liberdade para você fazer dele o que bem entender pode ser uma verdadeira bencao. Ontem, por exemplo, assisti ao filme Momo. Nao gostei muito da filmagem, mas o DVD caíu "sem querer" nas minhas maos. Na sexta fui pra cidade cortar o cabelo, passando antes numa livraría, comprei finalmente o livro "Momo".

Tenho falado do livro, mas como nunca o lí e tambem pelo fato de eu estar à procura de um trecho da história que foi citado numa interessante crônica, achei que merecía o investimento. Quando sentei no cabelereiro para esperar pelo corte, passei a folhear o livro à procura do tal trecho. Folheio pra lá e pra cá quando, de repente, abri a página na qual a vendedora havia colocado, como brinde, um marcador de livros e lá estava o que eu tanto procurava. Nesse momento me emocionei e de alegría, meu olhos ficaram marejados, foi quando a cabeleleira chegou. Estando atento, esses pequenos "passes de mágica" acontecem com mais frequência do que a gente imagina, isso se considerarmos tambem o que deixa de acontecer. Uau! quanta ajuda o destino coloca à disposicao e nós, se é que pensamos a respeito, geralmente a consideramos simplesmente como obra do acaso. Digo isso, mas sem qualquer preconceito pois prezo e muito o poder existente no acaso.

Acho que agora sei por quê Momo vem com tanta frequência "me visitar". Nas últimas semanas cresceu muito minha preocupacao sobre como apoiar meu filho para melhorar seu rendimento escolar e ainda tentando fazê-lo ver o outro lado do cigarro. Sei que nem sempre acertei no tom de voz, apesar de ter me esforcado em trazer argumentos imbatíveis. Mas essa é a questao: nao adiantam rebuscados argumentos se a linguagem do coracao nao os aquece. Nao é que só se vê bem com o coracao (citando S.-Exupéry) mas tampouco se fala bem sem sua participacao.

Aliás, Momo só consegue realizar sua missao depois de ter vislumbrado a fonte do tempo dentro do próprio coracao. A imagem que o autor descreve é belíssima, aqui resumido com as minhas palavras: Mestre Hora mostra o caminho à menina e pede à ela para nao falar ou perguntar nada enquanto ela estiver nesse lugar. Ele cobre seus olhos e logo ela passa a ver uma imensa aboboda cheia de estrelas, do alto entra um foco de luz que incide sobre uma flor, a mais bela que Momo até entao tinha visto e essa flor parecía ser feita apenas de luz e cores e Momo sequer sabia existirem. Essa flor se encontra no meio de um lago de águas escuras. Momo percebe, nao só o doce perfume da flor, mas tambem uma melodia que nao lhe pareceu estranha. Fascinada pela beleza da flor, ela se assusta e comeca a ver com tristeza como a flor, no auge da sua beleza, comeca a murchar e vai se despetalando até sumir por completo. Pouco depois surge um novo botao e sem acreditar nos seus olhos ela ve este desabrochar numa flor ainda mais bonita e seu perfume superava o encanto provocado pela primeira. Quando esta tambem comecou a murchar, a menina entristeceu e mesmo achando ser impossível, ela viu brotar a flor mais formosa de todas. Esta tambem sucumbiu dando lugar à próxima que extrapolava a beleza de todas as outras. Momo acordou no colo do Mestre Hora, imprecionada com a grandeza do tempo, Mestre Hora lhe disse que aquele era só o seu tempo. A menina perguntou entao, aonde fica esse lugar e Mestre Hora respondeu "dentro do teu coracao".

As mensagens e imagens dessa história sao muito simples e para as pessoas de hoje, bem mais concretas do que abstratas. Os homens cinzentos que roubam o tempo temos hoje por todos os lados. Na macro-economía e dentro das famílias eles desviam nossa atencao, fazendo com que foquemos nossos sentidos naquilo que faz com que nao sobre mais tempo para o essencial.
Para vencer o poder deles, nao adianta violência nem afiados argumentos tirados do intelecto, usando a forca do coracao, sim, desacelerando e devagarinho como tartaruga Cassiopéia, com a flor da hora nas maos,
podemos vencer os homens cinzentos que poluem tudo com seus charutos e entao voltar a usar nosso precioso tempo com aquilo que é bom, bonito e verdadeiro. Saindo assim do círculo vicioso, retomamos nossa metamorfose evolutiva.





domingo, 1 de março de 2009

Vivem em nós inúmeros



Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.

Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados

Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.
Ricardo Reis