domingo, 6 de setembro de 2009

Pranto


No dia em que meu pranto rolou, encontrei este texto que me fez nao só aceitar mas compreender e dar o devido valor e lugar para esta divina qualidade humana. Traduzí este bemfazejo artigo para vocês. A imagem, pintei seguindo o modelo original de Jawlensky que a chamou de “Meditacao”. Pintar para mim tem sempre essa funcao meditativa em formas, cores e processos criativos.

Criacao perfeita: o pranto por Sebastian Gronbach / traducao Sonia Hauck

Há alguns anos conheci o pranto. Era estranho para mim e tudo menos bemvindo. Agora o pranto chegou plenamente até mim e nós nos conhecemos deveras bem. Claro que antes eu chorava tambem mas era um outro pranto. No passado ele vinha sobre mim. Agora ele vem de mim. Eu choro. Meu eu chora.

“Porque vocês Homens choram”, pergunta Arnold Schwarzenegger como Terminator ao seu pequeno amigo, “vem por causa da dor?” O menino John Connor responde: ”Nao, pode estar tudo em ordem mas dói mesmo assim.” No final do filme, quando o Terminator se sacrifica para salvar o mundo, ele passa a conhecer o enigma das lágrimas. “Eu sei agora por que vocês choram. Contudo é algo que nunca serei capaz de fazer.”

Porque nós Homens somos capazer de algo para o qual ninguem mais é capaz? Porque choramos?

Eu vivencío duas realidades. Uma delas me diz que está tudo bem. Nessa realidade me encontro feliz, consigo aceitar tudo, tudo está em ordem, nesse mundo vivo e rio. Aqui no sorriso percebo que meu eu se eleva espiritualmente por cima de tudo e acima de todas as realidades aparentes que procuram me prender. Com esse sorriso feliz desaparecem os espiritos do mal e eu me sinto erguido em harmonia eterna.

Contudo essa realidade possue uma contra-realidade paradoxa. Uma realidade, que foi criada como contrapeso a fim de eu poder me sentir no meu interior, inserido e fazendo parte deste mundo, com tudo que a partir da outra perspectiva, com toda razao, se apresenta como ilusório. Aqui vivencío a vida como ilimitadamente triste, imensuravelmente pesada e desgracadamente injusta. Aqui entre favelas, Ground Zero e enfermarías oncológicas, existem ilimitadas razoes para uma profunda tristeza sem fim. Aqui os jornais nao susurram mas soltam gritos agudos quando lidos. Aqui os notociários nao sao falados mas solucados e aqui cada um mostra o nicho no centro do próprio coracao.Nicho de dor sem fim . Nesse nicho abre-se o abismo, no qual o sofrimento universal se torna minha dor particular e meu próprio grito fica sendo o grito do universo.

“Com você pode estar tudo em ordem, mas dói mesmo assim”, diz John Connor.

Porque nos toca a dor do mundo? Porque outros tomam parte das minhas preocupacoes?

“Somos capazes de inserir em nós o que vive ao nosso redor e podemos carregar tudo em nosso coracao, pelo fato de termos um Eu que se encontra em uma misteriosa e mágica ligacao com o resto do universo ao nosso redor”, diz Rudolf Steiner.

Chorar realmente, só o ser humano consegue. Só o Homem tem a capacidade de vivenciar mais do que aquilo que ele possue em seu próprio corpo. Ele consegue sentir e vivenciar solidariamente a dor do mundo e o sofrimento de outros seres. Só o Homem pode dizer: eu lamento alguma coisa. Quando animais choram e animais tambem choram, entao algo chora neles. No pranto dos Homens se manifesta o Eu em sua corporalidade, no pranto o Eu se liga de forma bem real ao Mundo e cada pessoa que chora pode vivenciar-se no Faust* que na páscoa diz: A lágrima rola! O mundo me tem de volta”. Aqui correm as lágrimas de quem regressou.

Em cada lágrima se materializa a dor. Dor, que recebi do mundo e dor que tem origem nas profundezas de meu ser. Lágrimas como gotas de sangue que saem das feridas da alma. Como o sangue, as lágrimas nao mostram só a ferida mas oferecem ao mesmo tempo o remédio. Eu posso reprimir esse medicamento. Posso engolir as lágrimas. Mas cada choro engolido provoca um nó na garganta. Com o tempo engolimos esses nós, mas eles permanecem em nós, nao se desfazem ou perecem. Ao invés disso, eles se enredam entre si e formam uma crescente úlcera de dor e de lágrimas engolidos que nao saíram e sim entraram.

Para prevenir isso podemos chorar. Quem chora, se liberta. Ele nao nega ou reprime o que vive nele e nem se prende por mais tempo ao próprio sofrer, mas ele se manifesta, abre as comportas, para que através das lágrimas a tristeza possa fluir para fora da alma. No pranto prendemos a dor numa forma, derramamos o sofrimento no mundo, mostramos que algo nos movimenta e pedimos ajuda por sermos humanos que precisamos dos outros seres humanos. Quando lá no fundo dói em nós, entao podemos chorar e a partir das salgadas lágrimas a dor indescritivel passa a ser uma experiência humana sensorial que finalmente se transformará em conhecimento.

Existe alguma imagem melhor para a perfeicao da criacao do que uma ferida que deixa o próprio medicamento fluir? Hoje dou boas vindas ao meu pranto.

Cordialente, Sebastian Gronbach ________________________________________________________________________ *N.T. Faust de J.W.v. Goethe

Fonte e para ler auf Deutsch: http://www.info3.de/ycms/printartikel_1669.shtml