quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Visao coletiva

À política, sei dar a devida importância, mas na verdade nunca foi meu negócio. Minha postura com relacao a política sempre foi, pode-se dizer, de aversao. A revolta contra os casos de corrupcao e o fato de todos os políticos nos quais, de alguma forma, depositei minha simpatía, sempre perderam nas eleicoes, me fez virar as costas para esse importante segmento que dá as cartas e se encontra no topo da pirâmide social. Com essa postura deixei tudo nas maos deles!

Desde que cheguei na Alemanha me sinto de fato mais participante como cidada. Procuro me informar a respeito e dar meus votos nas eleicoes e é claro que esse é o mínimo de engajamento que se pode esperar de um cidadao. Contudo, aconteceu ontem uma experiência marcante nessa minha sutil participacao política.

Há pelo menos tres anos venho me interessando pelo conceito sócio-ecomômico que aqui foi denominado "remuneracao básica incondicional" (bediengungslose Grundeinkommen). Se trata de um movimento que visa solucionar o grande problema do estado com relacao aos desempregados e a todos que vivem de ajuda social e "mamam nas tetas" do governo. Li até que no Brasil o Lula vem tentando implantar algo nesse sentido, mas voltemos ao ponto de vista daqui.

Gracas a democracia social alema, os níveis de probreza sao realmente limitados se comparados a grande parte do resto do planeta. Contudo, a queda na qualidade de vida, como era de se esperar, nao é vista com bons olhos e ninguem está disposta a abrir mao do nível conforto ao qual se acostumou nas últimas decadas. Porem, isso desfalca cada vez mais os cofres públicos, visto que o número de desempregados é crescente o que aumenta o número de pessoas carentes. O setor social e de saúde sao os que mais sentem as consequências dessa recessao. Em hospitais, e instituicoes para cuidados especiais por exemplo, poucos funcionários sao confrontados com muito trabalho por causa dos cortes nas folhas de pagamento. Por um lado o governo economiza, por outro ele paga mais. O mecado nao tem mais como absorver a mao de obra que é como que o refugo que sobrou daquilo que é considerado como optimisacao do trabalho. As pessoas que conseguiram manter seus empregos trabalhasm em geral no limite das suas capacidades o que aumenta a frequência das faltas por doencas que por outro lado sobrecarregam aqueles que ainda estao segurando a bola. Os que foram desligados da possibilidade de trabalhar, vivem dos cofres públicos no limite inferior da sociedade quase sem chances de se reerguer o que provoca ma maioria das vezes frustracao, revolta e consequentes doencas de cunho social. Outro agravante que veio recentemente abalar ainda mais esse quadro é o desequilíbrio ecomômico provocado pela "cagada" geral dos bancos internacionais. Ou seja, crise sobre crise!

Como sería a vida das pessoas que pudessem escolher em que trabalhar sem ter a pressao de ter que ganhar dinheiro?

A idéia da "remuneracao básica incondicional" prega uma remuneracao básica para cada cidadao desde o nascimento até a sua morte que seja suficiente para suprir suas necessidades básicas. Por exemplo, uma mae, com filhos pequenos, pode ficar em casa fazendo o trabalho de dona de casa e de educadora sem precisar se preocupar em como ganhar o dinheiro para o leite das criancas. O princípio visa desacoplar o trabalho dos valores monetários: o trabalho dessa mae nao pode ser considerado inferior ao de um consultor de banco que vai as suas reunioes. Mas ele é, de fato, valorizado de forma bem diferente.

Mas, como fazer para arrecadar o dinheiro a ser distribuido incondicionalmente para todos?

Eliminando todos os impostos, enxugando a máquina administrativa e criando um imposto único sobre consumo, sería possível, segundo os calculos dos iniciadores desse projeto, financiar essa remuneracao produzindo incentivos para o consumo e para a producao desses bens, fortalecendo tambem o mercado mas diminuindo as margens de lucro das indústrias. Como sao elas que mais poluem o planeta, elas bem que podem pagar por isso. Se o povo tem dinheiro, a indústria e o comércio podem vender. A concorrência faz com que vencam os melhores e isso tambem no sentido ecológico para o qual a consciência do consumidor está cada vez mais desperta.

Nao tenho a intencao de expor todo o programa, mas para deixar aqui registrado o fato que mexeu comigo ontem, foi necessário dar essa pequena introducao . Para maiores informacoes existem livros, homepages, debates, artigos em jornais e revistas, palestras. Mas pelo que sei, tudo apresentado através da língua alema.

Uma mulher simples, mae de família, revoltada com o aumento de impostos que atacaram seus bolsos, deu o primeiro passo e decidida resolveu em dezembro fazer uma peticao ao congresso pedindo para instaurarem a tal "remuneracao básica incondicional". Cada cidadao pode assinar essa peticao por via eletrônia mas o assunto só pode ser abordado no congresso caso tenham sido reunidas mais de 50.000 assinaturas. Ontem encerrou-se o prazo para as assinaturas. As 18horas nao haviam chegado ainda a esse número, contudo, antes do final do dia somaram-se mais de 53.000 assinaturas ! Foi emocionante ver como a uniao por um ideal foi unindo as pessoas que estavam sós atrás dos seus pc's mas ligadas nessa idéia. Mais do que 53.ooo pessoas olharam para um mesmo objetivo e aonde seus olhares se cruzaram surgiu como que uma estrela.

Espero que ela possa crescer para dar início e movimentar novos sistemas sócio-politicos-econômicos mais justos e apropriados para o futuro, do que os atuais que estao ruindo por todos os lados do planeta.

Quero acabar por aqui, mas nao sem deixar de incluir um link musical que há mais de 40 anos deu seu tom prófético para impulsos que aos poucos hoje comecamos a ver brotar.

Nenhum comentário: