quarta-feira, 18 de março de 2009

Impulsionando o querer


Como impulsionar meu querer para que este possa colocar em movimento a roda da minha história pessoal, tirando-me da posicao de mero espectador para atuar no centro de acontecimentos capazes de fomentar a evolucao do organismo social? Entre as pessoas com fogo até demais mas que geralmente acabam virando cinzas e outras completamente desinteressadas, como posso eu me transformar em agente de mudancas, sem me deixar simplesmente levar por idéias alheias ou tornar-me vítima de mobbing? Como ser sempre autêntica e fiel especialmente para comigo mesma?

Há alguns dias participei de um congresso que movimentou algumas dessas perguntas. Organizado pelo ramo antroposófico de Kassel, o eventou contou com a participacao da Dra Michaela Glöckler* como palestrante, tanto para introduzir como encerrar os trabalhos, que se deram através de workshops divididos em pequenos grupos para médicos, professores, pedagogos curativos, terapeutas sociais, economía social, ciências naturais, tecnología e ética, agricultura, cuidados com pacientes terminais, euritmía, pintura e modelagem.
Aqui, uma pequena síntese e outras tantas consideracoes tecidas sobre aquilo que ficou marcado, a partir do meu próprio ponto de vista :

Entre a natureza e a sociedade, me encontro eu. Da natureza recebi atributos volitivos como os instintos e a cobica. A alimentacao, o sono e a reproducao nao sao naturalmente pre-programados como nos animais e aí passam a valer os impulsos e as regras impostas pela sociedade. Sob a influência dessa polaridade vivo eu, procurando sempre encontrar a melhor forma de viver na tensao entre o meu querer e a coletividade. As vezes reajo, outras fico como que paralisada. Mas nenhuma das duas atitudes me satisfaz. Quero é me libertar da pressao exercida tanto pela natureza como pela sociedade. Mas... como chegar à "idéia luminosa" que vai despertar meu entusiasmo sem me resignar ou me queimar? Pensando! Só que nao do jeito que "morreu um burro", pois, pensar nao significa apenas reproduzir informacoes como faz o computador. Pensar é, em primeira instância, saber questionar e é sobretudo uma atividade espiritual impreescindivel ao autoconhecimento. Outro aspecto de apoio é procurar o vínculo a uma identidade pessoal, cultural, profissional ou religiosa que reflita e ofereca uma orientacao e uma imagem que conduz (Leitbild), condizente com o meu ideal interior. Na parte prática, permanecendo atenta e decidida a transformar em realidade aquilo que posso classificar de bom, meu trabalho, seja em qual área for, passa a ter forca e qualidade de vocacao, de servico religioso.

Tudo de bom na teoría. Mas como faco para aplicar concretamente essas idéias para que cheguem à instância da vida real? No exercício de contatos sociais, na elaboracao de projetos coletivos, seja formando pequenos grupos de estudo ou até no sentido de concretizar ideais mais ousados, estou treinando minha capacidade de comunicacao que nada mais é que o uso da palavra, do logos, o tal do impulso criador universal. Esse tipo de engajamento faz com que eu assuma com plena responsabilidade o papel que me cabe em cada situacao e como consequência posso chegar a ver o objetivo da minha decisao interior, concretizado em realidade exterior.

As chances para desenvolver relacoes construtivas nesse sentido, aumentam na medida que edifico meu interior com a mesma "substância" que aplico no plano social, ou seja, tambem fazendo uso da palavra, só que em forma de meditacao ou oracao. Meditando, desperto minha autoconsciência que me permite perceber que fazemos parte do mesmo princípio universal onde somos todos um e quando diferencas sao superadas me sinto mais livre para encarar minha missao. Preciso fazer crescer o autoconhecimento, iluminar meu pensar e aquecê-lo com as forcas do coracao. Com isso terei mais confianca em mim e em meus pensamentos. Vou deixar de vacilar e terei mais certezas, tornando meu agir seguro e muito mais efetivo.

Se me encontro inserida numa constelacao social/profissional preciso cultivar a cultura desse empreendimento para incentivar a capacidade de reunir pesssoas com um ideal comum. Assim como para o desenvolvimento pessoal, existem tambem meditacoes específicas para diversas áreas profissionais. A do "centro e perifería" foi proposta por R.Steiner aos pedagogos curativos e entre outras foi tambem sugerida no evento uma outra meditacao dada para a euritmia que acompanhada de movimentos na forma de um pentagrama é muito útil para exercitar a ampliacao do eu no âmbito espacial, pessoal e coletivo, melhorando minha postura e a emanacao do meu ser no ambiênte social.

Mas nao é só pensando, falando e meditando que vamos atingir nossos objetivos, mas entrando em acao e em contato. Engajamento politico é indispensavel para defender e dar voz àquilo que queremos ou nao. Vozes críticas que se levantam para nao deixar as decisoes nas maos de políticos ligados a interesses econômicos alheios aos valores humanos. Presencas ativas suficiêntes para defender a natureza e nossos ideais de liberdade, sem permitir que nos impinjam alimentos, medicamentos e bens de consumo que deterioram nossa saúde e a do nosso planeta. Guerreiros com domínio das armas certas contra as aberracoes que beneficiam apenas àqueles que detem o poder e, muitas vezes sem qualquer escrúpulos, manipulam a sociedade com o único intúito de incentivar e endeusar o consumo. Só que a minha voz se perde se nao estiver unida a outras que em número crescente vao fazer frente à conspiracao que o poder ecomômico, muito bem organizado, vem realizando para mutilar a vontade própria do ser humano e escravizá-lo, levando-o à depressoes e outros tantos tormentos psíquicos que o enfraquecem e o tornam vuneravel. Enfraquecido dessa forma sutil, ele acaba aceitando uma realidade nao escolhida por ele próprio, as vezes mesmo sabendo que nao é isso o que ele quer. Acomodando-se deixa-se levar pelas ilusoes e tentacoes que através do marketing nos iludem para que acreditemos nos valores que encherao os bolsos dos que detem o poder ecomômico, fazendo com que trabalhemos como escravos e ainda acreditando que o fazemos por livre e expontânea vontade. Que vontade é essa que nos motiva e hypnotiza a esse ponto ?

A escolha é nossa, acordar do sono que nos faz manipuláveis dá trabalho sim, mas é para uma boa causa, para que nossas futuras geracoes possam ainda ter possibilidades de saúde e de desenvolvimento; para que o planeta e seus sensíveis sistemas nao entrem em colapso por causa de tanto abuso inconsequente. Olhos abertos, mentes abertas e a busca de solucoes conjuntas pois especialmente os filmes norteamericanos nos fazem acreditar em heróis solitários que vencem sozinhos todas as forcas do mal. O que tem por de trás dessa imagem que tentam nos incutir?

A uniao faz a forca e Maquiavel já sabia bem como manter seu poder: jogando uns contra os outros! A guerra de todos contra todos é inoculada pelas forcas detentoras do poder. (Que poder é esse?) Reconhecê-las é um dos primeiros passos se desejamos, de fato, despertar para essa realidade pouco confortavel e de muitos desafios. A luta é necessária e quem nela entrar deve estar bem munido e unido a muitos outros para que a ideologia comum possa reverter em realidade à todos aqueles que decidiram acordar e dar um impulso no próprio querer para o bem do todo.

*Dra. Michaela Glöckler conduz a secao médica do Goetheanum em Dornach, Suica. Autora de grande número de livros e outras publicacoes, ela viaja pelo mundo dando palestras sobre temas relacionados a antroposofia.

Nenhum comentário: